à distância de um talvez e vice-versa...

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Do outro lado encontra-se um igual que experimenta o mesmo:
dois lugares demarcados comunicam entre si.
Nem um nem outro tem mais ou menos protagonismo,
cada um único e irrepetível, contudo.
Um lado transforma-se no outro e vice-versa.
A única desproporção resulta da perspectiva, porque só nos encontrámos num dos lados enquanto observamos o outro...
Entretanto, dois lados em que algures entre acontece...

Porto, Janeiro 2009

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II
... porque apesar de perto ser distante, é sempre de mais perto que olhamos o que queremos conhecer.

Assente nas finas estacas, a acentuar a instabilidade da construção, duas estruturas desnudam o processo de camada em camada. É o tempo e as circunstâncias que nos erguem. De arestas angulosas e superfícies planas vamos caminhando numa construção parcial que de nós fazemos.

A individualidade descentra-se, estendendo uma longa linha, como se o nosso percurso fosse sempre definido pela vontade de prolongamento num outro. Algures, no meio dessa vontade, edifica-se um momento. O encontro interrompe a aridez da pele. A cor intensifica a emergência de um não-eu que, simultaneamente, me define e, no gesto, me prolonga.

O que pensávamos de nós tem o tempo para acontecer. Pela acção caminham as palavras onde “o ego se faz exterioridade” (Nancy, 1976). Na alteridade fica a função de recolher o traço do corpo actuante e que, apesar de subjectivo, será sempre uma forma de existirmos.

Eu sou perante ti, tanto quanto és perante mim, juízos cambiantes de um eu… juízos cambiantes de um tu.

Eu olho-te. Tu olhas-me.
Tu falas-me. E vice-versa…


Carolina Rito, 2009

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