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Poderia escrever muito sobre, mas no fim continuaria com a incerteza daquilo que realmente me motivou para produzir, ao longo dos últimos meses, este trabalho, muito mais ainda sobre o que ele poderá vir a oferecer...
Também, seria arriscado confirmar que ele se debruça sobre os condicionalismos comunicativos nas relações interpessoais. Mais ainda, que é o eco de um exercício de auto-conhecimento...
No entanto, asseguro que tive um forte ímpeto para erguer montanhas, pelas quais gostaria de escalar até ao topo, na esperança de, num belo dia de céu limpo, encontrar o melhor lugar e compreender o que sucessivamente acontece.
Enquanto as construí deambulei muito e cheguei, por ora, à conclusão de que, afinal e sempre, tudo se passa na nossa mente e o que nos resta é esperar pelo tempo, sempre sábio nas suas respostas.
Até lá, continuemos a brindar, e, quiçá, quando menos esperarmos, num dia de verão, iluminados pelo vento que sussurra, duvidaremos daquilo que achávamos certeza; embriagados pelo cheiro a terra molhada, lembrar-nos-emos que afinal ainda temos forças de sobra...
Porto, Agosto de 2007
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/ Believe! /
/ (panorâmica geral) /
/ Escalada nº2 /
/ Escalada nº3 /
/ Já não sei se amanhã continuo à tua espera /
/ Afinal hoje está um belo dia de sol /
/ Último fôlego para lá da cordilheira /
/ Escalada nº1 (pormenor) /
Oscilações do pensamento...
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Vou lá muitas vezes, no mínimo uma vez por semana. Já vão seguramente 4 anos!
Entro sem hesitar. Cumprimento de raspão o homem do costume com um aperto forte de mão. Não perco tempo. De passada larga e olho bem atento corro tudo. Já conheço os cantos à casa. O movimento da cabeça não pára; ora à esquerda, ora à direita, acima e abaixo, descrevendo animações rápidas mas atentas. Estou acostumado, já não me perco.
Maior parte das vezes não pressinto o que procuro mas tenho a certeza que vou encontrar.
O ar é intenso. O ambiente vislumbra-se nem muito claro nem muito escuro, é apertado contudo. Os odores misturam-se. Sente-se a presença da madeira velha, gasta, mal tratada; adivinha-se o cheiro a mofo, a rançoso; cheira a usado, desconhecido, a abandonado, mas também cheira a cera de abelha a tentar disfarçar.
Tem lá de tudo: objectos pequenos, maiores, enormes, completos, disformes, imperfeitos, desfeitos; objectos originais, invulgares, coloridos, brilhantes, simpáticos, familiares, quotidianos; outros pirosos, excêntricos, insuportáveis, apáticos. Todos eles com um denominador comum: deixaram de servir, foram preteridos, rejeitados. São todos objectos em segunda ou terceira e quarta mão quiçá. Uns ficam, outros vão, outros ainda acabam de chegar. Fico atento ao vai e vem...
Lá ao fundo, onde se perde a noção da perspectiva, encavalitada sobre uma espécie bizarra de armário, ergue-se imponente uma Cadeira. Aproximo-me...
- Uma bela cadeira! - Exclamam os meus olhos esbugalhados. Antiga, forrada de tecido coçado, roto nos cantos mais previsíveis. Convencida que é a mais perfeita de todas. Era porventura uma cadeira de mesa de sala. Provavelmente fora separada das irmãs. Talvez tenha desertado, ou pior, substituída por uma outra sem dúvida menos formosa. Entre as demais nenhuma se apresentava tão deslumbrante: de pernas roliças, bem torneadas, de costas firmes, segura de si. O verniz estalado denunciava uma história preenchida.
Que mãos lhe deram vigor? Quantos se sentaram nela? Quantas vezes ofereceu descanso ao mais fatigado de todos? Quantas vezes reservou lugar para a mais completa das refeições? A quem jurou fidelidade eterna? Quem se esqueceu dela, a abandonou?
Já não interessa. A partir de agora é minha! Quem foi ao ar perdeu o lugar.
Fui eu o escolhido. O seu novo proprietário. Agora o seu destino pertence ao programa das minhas motivações. Vou oferecer-lhe outra oportunidade, atribuir-lhe nova família, uma nova orientação, qualidade proporcional à sua envergadura, à feição do seu vulto, à genuidade da sua estrutura.
Aproximo-me novamente do homem: - Dez euros!? Compro!
Porto, Outubro de 2006
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/ Estágio I /
/ Estágio II /
/ Estágio III /
/ Estágio IV /
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Vou lá muitas vezes, no mínimo uma vez por semana. Já vão seguramente 4 anos!
Entro sem hesitar. Cumprimento de raspão o homem do costume com um aperto forte de mão. Não perco tempo. De passada larga e olho bem atento corro tudo. Já conheço os cantos à casa. O movimento da cabeça não pára; ora à esquerda, ora à direita, acima e abaixo, descrevendo animações rápidas mas atentas. Estou acostumado, já não me perco.
Maior parte das vezes não pressinto o que procuro mas tenho a certeza que vou encontrar.
O ar é intenso. O ambiente vislumbra-se nem muito claro nem muito escuro, é apertado contudo. Os odores misturam-se. Sente-se a presença da madeira velha, gasta, mal tratada; adivinha-se o cheiro a mofo, a rançoso; cheira a usado, desconhecido, a abandonado, mas também cheira a cera de abelha a tentar disfarçar.
Tem lá de tudo: objectos pequenos, maiores, enormes, completos, disformes, imperfeitos, desfeitos; objectos originais, invulgares, coloridos, brilhantes, simpáticos, familiares, quotidianos; outros pirosos, excêntricos, insuportáveis, apáticos. Todos eles com um denominador comum: deixaram de servir, foram preteridos, rejeitados. São todos objectos em segunda ou terceira e quarta mão quiçá. Uns ficam, outros vão, outros ainda acabam de chegar. Fico atento ao vai e vem...
Lá ao fundo, onde se perde a noção da perspectiva, encavalitada sobre uma espécie bizarra de armário, ergue-se imponente uma Cadeira. Aproximo-me...
- Uma bela cadeira! - Exclamam os meus olhos esbugalhados. Antiga, forrada de tecido coçado, roto nos cantos mais previsíveis. Convencida que é a mais perfeita de todas. Era porventura uma cadeira de mesa de sala. Provavelmente fora separada das irmãs. Talvez tenha desertado, ou pior, substituída por uma outra sem dúvida menos formosa. Entre as demais nenhuma se apresentava tão deslumbrante: de pernas roliças, bem torneadas, de costas firmes, segura de si. O verniz estalado denunciava uma história preenchida.
Que mãos lhe deram vigor? Quantos se sentaram nela? Quantas vezes ofereceu descanso ao mais fatigado de todos? Quantas vezes reservou lugar para a mais completa das refeições? A quem jurou fidelidade eterna? Quem se esqueceu dela, a abandonou?
Já não interessa. A partir de agora é minha! Quem foi ao ar perdeu o lugar.
Fui eu o escolhido. O seu novo proprietário. Agora o seu destino pertence ao programa das minhas motivações. Vou oferecer-lhe outra oportunidade, atribuir-lhe nova família, uma nova orientação, qualidade proporcional à sua envergadura, à feição do seu vulto, à genuidade da sua estrutura.
Aproximo-me novamente do homem: - Dez euros!? Compro!
Porto, Outubro de 2006
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/ Estágio I /
/ Estágio II /
/ Estágio III /
/ Estágio IV /
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Tenho a certeza que na maior parte das vezes fico para sempre perto de ti...
A instalação que se apresenta surge na sequência de um percurso de trabalho que procura através da metáfora da natureza contar pequenas histórias auto-biográficas onde a Montanha se ergue como revelação de esforço e conquista e a Árvore se implanta como símbolo de reflexão e sapiência. O objecto banco estrutura-se como mecanismo individualizador, conferindo identidade próprio às personagens retratadas.
Esta particular história com dois actores completa-se com a contra-encenação de uma caixa que se assume, inicialmente, como contentor de transporte e armazenamento da paisagem ambicionada e que contribui, decisivamente, para o desenrolar da narrativa. Adivinha-se que o contacto estabelecido entre as duas personagens se perpetue no interior da caixa. Esta ganha natural protagonismo como parte integrante do conjunto, pois, aquando o fugaz momento expositivo, passa a revelar o seu conteúdo, transformando-se assim num privativo e especial plinto.
Porto, 2007
Esta particular história com dois actores completa-se com a contra-encenação de uma caixa que se assume, inicialmente, como contentor de transporte e armazenamento da paisagem ambicionada e que contribui, decisivamente, para o desenrolar da narrativa. Adivinha-se que o contacto estabelecido entre as duas personagens se perpetue no interior da caixa. Esta ganha natural protagonismo como parte integrante do conjunto, pois, aquando o fugaz momento expositivo, passa a revelar o seu conteúdo, transformando-se assim num privativo e especial plinto.
Porto, 2007
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