.
.
O Pascalito é um menino que gosta de sonhar
que gosta de relacionar coisas,
que gosta dos pormenores, da miniatura...
que faz da miniatura a coisa maior do mundo.
O Pascalito brinca ao faz de conta,
gosta de contar histórias.
O Pascalito é a personagem principal das histórias.
O Pascalito é uma criança.
O Pascalito, como qualquer criança, gosta de brincar,
está sempre a brincar.
Gosta de brincar aos bonecos, aos Legos, aos carrinhos, às casinhas...
O Pascalito também gosta de brincar às flores,
aos montes,
às nuvens,
às cores e às luzes.
O Pascalito gosta de brincar às brincadeiras,
gosta de fazer de conta.
No seu castelo colorido, o Pascalito gosta de brincar a atravessar portas,
a espreitar pelas janelas,
a subir e descer escadas.
o Pascalito também gosta de brincar às escondidas nos armários,
a abrir e fechar caixas e gavetas,
a acender e apagar luzes e outras coisas mais...
Com o seu carro maravilha, o Pascalito gosta de brincar às aventuras,
às viagens,
às descobertas,
às surpresas,
aos encontros...
...lá onde tudo está no lugar,
onde nada falta mas também não é preciso muito,
lá onde as coisas são simples,
onde tudo anda a seu tempo.
Lá onde se compreende o tempo,
onde se dança com as flores,
se pensa com as árvores
e se adormece com o mar...
Porto, 15 de Dezembro de 2003
---------------------------------------------------
/ projecto para uma vida simples (2003) /
----------------------------------
/ a visita da menina do regador (2002) /
----------------------------------
/ a sucata do Pascalito (2001) /
---------------------------------------------------
Pascalito nasceu por volta da uma e meia da manhã, do dia 15 de Dezembro do ano de 1971 na maternidade de ST. Maurice, nos arredores de Paris. Aos 5 anos teve o seu primeiro acidente de trânsito. Na sua primeira bicicleta, prenda do pai natal, atropelou Mousieur Gerberon à porta do nº 75 de la Rue Jeanne D´Arc, sua primeira morada. Fez um golpe na cabeça.
Foi ainda em terras francesas que, um ano mais tarde, convenceu seus pais a investirem numa caixa colorida de nome “Lego” que sorria na montra de uma loja a caminho da escola. A partir daí deixou de chuchar no polegar e não mais parou em aplicar-se à construção Legolística.
Por volta dos 8 anos fez tanto sucesso com os seus desenhos e construções que o seu padrinho de baptismo lhe disse – “Quando fores grande vais ser Artista!”. Foi então que não mais fez senão dedicar-se à actividade plástica. Participou em várias reuniões de família, tornando-se especialista em retrato e em engenharia do Lego. Esteve e ainda está representado no acervo da galeria da família Ferreira.
Aos 9 anos emigra para Portugal. Seus pais regressam à terra natal depois de 16 anos de economias e tempos difíceis em terras longínquas.
Já com 10 anos participa em conjunto com o agregado familiar, na escolha do papel de parede para o seu novo quarto na nova casa em Delães que seus pais entretanto construíram junto a uns grandes carvalhos. Era um papel de parede azul, de padrão às flores. Sua irmã escolheu o mesmo com tons de rosa.
Frequentou a partir de 1982 a cerâmica artística e centro cultural de S. Pedro de bairro, V.N. de Famalicão, dedicando-se ao miniaturismo. Ao longo de 10 anos, reuniu um vastíssimo conjunto de obras de arte que ainda fazem hoje parte do espólio daquela instituição.
Paralelamente à arte da miniatura continuou, ao longo destes anos, a dedicar-se à construção de estruturas em Lego, que lhe serviram de fortificações para as batalhas travadas entre os soldados de plástico e de garagens para os carrinhos da Majorette e Matchbox.
Em 1991 ingressou na Escola Superior de Belas Artes do Porto. Foram tempos histéricos por entre visitas a museus e noitadas nos bares da cidade. Aprendeu pouco, mas ainda fez alguns amigos. Trabalhou muito, mas não guarda grandes recordações. Contudo, alimentou sempre o forte desejo de se tornar no maior escultor do mundo.
Desde 1998 que se dedica ao ensino da escultura como professor assistente na instituição que lhe deu título de “Artista Plástico”. Fez grandes amizades com alguns dos seus alunos e mantém fortes convicções que a arte não se ensina nem se aprende, apenas partilha-se. Entretanto, descobre que qualquer manifestação artística não é senão um veículo de comunicação de uma determinada poética, fruto de uma forma de ver as coisas, consequência de uma particular mundividência.
Frequenta assiduamente, desde 1999, a feira da Vandôma e outro lugares análogos, tendo já reunido um enorme conjunto de matéria-prima para suas obras.
Foi condecorado pela ordem dos amigos do LEGO com o título de melhor construtor do ano 2002, com os projectos pascalito, o menino que era dono de uma sucata e a Visita da menina do regador ao castelo do pascalito.
Presentemente, continua em processo de auto consciencialização. Brinca com Legos e modela personagens em barro. Tem vindo a especular sobre o instante em que papéis atribuídos se invertem entre o observador e o objecto observado. Continua a tentar gerir as emoções alheias, arquitectando ambientes favoráveis à reflexão colectiva.
Porto, 15 de Dezembro de 2002